workshop # caminhada (o) espaço social (os) corpos


A CAMINHADA

Workshop Sala Crisantempo 
Vila Madalena, Sao Paulo
Août 2012- SP Brazil




“O corpo está no centro do mundo, ali onde os caminhos e os espaços se cruzam, o corpo não está em nenhuma parte: o coração do mundo é esse pequeno núcleo utópico a partir do qual sonho, falo, me expresso, imagino, percebo as coisas em seu lugar e também as nego pelo poder indefinido das utopias que imagino. O meu corpo é como a Cidade de Deus, não tem lugar, mas é de lá que se irradiam todos os lugares possíveis, reais ou utópicos.”
Michel Foucault, “O corpo utópico”, in O corpo utpico. As heterotopias, Paris, Nouvelles Editions Lignes, 2009 (conferencias radiofônicas de 7 e 21 dezembro 1966 em France- Culture) 




Proposição coreográfica _ transposição corporal do espaço social

Observar o espaço social, as situações sociais do espaço público e nele fazer uma transposição coreográfica a traves da pratica da caminhada.


CAMINHAR _ é o ponto de partida para ler o espaço social, pois _ A caminhada é uma prática cotidiana e ela ritma este espaço. A caminhada é constantemente o movimento que mantém o espaço social numa mobilidade visível. A caminhada é a atividade corporal com a qual nos deslocamos no espaço público, para chegar a algum lugar, ao trabalho, à casa de um amigo, ir ao mercado, perder-se, errar. A caminhada ativa a relação com os outros: corpos temporais e espaciais.
No workshop, a caminhada é um instrumento gestual para o projeto coreografico: que tipo de espaço se constrói por todos esses corpos em movimento? Por quais qualidades este espaço coletivo existe e é perceptivel? Quais correspondências existem entre os principios sociais (hierarquia, submissão, individualização, interacção etc) e as realidades corporal e perceptiva da caminhada? Trata-se de começar a tomar consciência da dimensão corporal do espaço social.

CAMINHAR _ é o ponto de partida desse workshop para o aquecimento do corpo e o trabalho acerca da presença. A través da ativação do movimento da caminhada, o performer explora seu corpo. Ele busca o alinhamento: o da verticalidade – pés, bacia, coluna vertebral, caixa craniana; o alinhamento do peso, que apruma, conserva essa verticalidade ao mesmo tempo que mantém uma constante mobilidade das articulações, dos apoios, das formas. 



A caminhada
témoignages

Textes de Maria Fernanda de Mello Lopes, Thais Ushirobira, Uxa Xavier, 
Photos de Claire Buisson

Un itinéraire d'une heure a été parcouru en conclusion des 4 jours de workshop. Il a été dessiné à partir du quartier Vila Madalena de Sao Paulo. L'itinéraire a été pensé en relation avec la transformation socio-économique en cours de ce quartier, et les conséquences sur l'aménagement de ces pourtours.
Marcher dans les seuils, marcher au travers des frontières. L'itinéraire parcouru a révélé la porosité du tissu urbain, face au phénomène de ré-aménagement d'un quartier, en même temps que l'exclusion des populations.
















Maria Fernanda







Thais

Caminhar por lugares onde já estive, mas com um corpo que nunca havia visitado: tudo é novo. Intensidades se modificam, novos trajetos se fazem, dentro de mim.

A princípio, uma sensação de indivíduo: eu, bem contornada, com meu centro, me levo a me deslocar. Sentidos aguçados. Surpreendo-me a olhar e enxergar tantos tipos diferentes de gente: formas, cores, velocidades. Coreografias não combinadas de direções e velocidades, contenção e liberação de fluxos, massas que se cruzam e vão deixando seus desenhos no espaço, já recortado por prédios e fios.

Por alguns momentos, que vão e vem, me sinto parte da coreografia que acontece nos espaços que vamos percorrendo, vendo meus traçados por onde passo.

Vou me dando conta de pequenas pinceladas de afetos que me surgem, na hora ou no movimento da memória e, conforme vamos descendo e chegando no largo, me angustio, sou atravessada pelo excesso...  de carros, de gente, de sons e de pensamentos.

Ao mesmo tempo, no decorrer da nossa caminhada, vou me fechando, perdendo presença, dá medo de me diluir no coletivo, acho eu. O olhar segue atento, mas dou um jeito de isolar um pouco os afetos...

Conforme vamos voltando ao estúdio, em ruas um pouco mais tranqüilas, lembro da respiração e re-acho meu centro. A concentração, já mais fraca, engata em uma conversa animada sobre viagens e vizinhanças com Maria Fernanda e o espaço vira paisagem...










Uxa

Caminho por entre corpos 

E sinto o ar entre eles.
Um espaço criado pelos desenhos que vamos riscando com nossos corpos.
A respiração ganha pernas, quadril e tronco.
A respiração é um corpo. 
Meu corpo se sensibiliza e ao mesmo tempo se organiza.
O gesto do companheiro me convida ao dialogo.
O espaço pulsa entre nós.
Eu estou aqui
Você está lá.
Estamos em percurso
Juntos e separados.
Os corpos na rua criam desenhos ocasionais.
Me conecto àqueles corpos e sinto seus desenhos, seus volumes e deslocamentos.
Para aonde eles vão? Não importa.